O Projeto Olimpíada de Língua Portuguesa ocorre de dois em dois anos, parceria entre o Instituto Itaú Social e Ministério da Educação, promove a prática da produção escrita através do estudo de gêneros textuais.
O tema de trabalho é sempre "O lugar onde eu vivo". Incentivo a pensar o próprio espaço e sua atuação neste.
Partilho aqui um trabalho desenvolvido nas oficinas ministradas para o gênero "Crônica", no ano de 2016.
Olimpíada
de Língua Portuguesa - Tema: O Lugar onde eu vivo
Aula de caminho
“Profe, tem que dar
aula de caminho para eles...” A frase dita assim, na sabedoria
pueril de Rânia, seis anos de idade, iniciando sua vida escolar,
nunca saiu de meu coração. Ela se referia ao fato de eu, como
vice-diretora da escola, estar cuidando a saída da gurizada, que ao
ouvir o sino – toque de liberdade? - corria da sala ao portão da
escola. Aula de caminho, sem dúvida, sempre é muito útil.
Pensar o lugar onde eu
vivo, inevitavelmente, atrela meus pensamentos a minha profissão,
pois os anos me fizeram colecionar histórias que hoje percebo
determinantes para meu modo de ser. Sempre fui professora nesta
cidade, são mais de 20 anos neste papel, além dos tantos outros de
formação. Do desafio inicial, na Escola da Imaculada, rede
particular e de confissão religiosa, à entrada na rede pública,
primeiro na rede estadual, Escola Estadual Carlos Chagas, com Ensino
Médio, passando pela Escola Estadual Clotilde Batista e por fim,
Escola Estadual Canoas, que carrega em si o nome do município e na
qual tive a honra de ser também direção, e a posterior entrada na
rede Municipal, Escola Municipal Rio Grande do Sul que me oportunizou
também o desenvolvimento de diferentes projetos, vivi muitas
transformações.
Da janela da Escola da Imaculada, lá do terceiro
andar, eu avistava o canteiro de cores vibrantes, amores-perfeitos
que enchiam meus olhos de uma energia lilás e de certa forma,
impulsionavam minha ousadia docente. Eu precisava de coragem já que
não havia cursado magistério e agora, na graduação, eu me
aventurava neste mundo pedagógico. Construí ali saberes muito
sólidos, tanto quanto a fé que a escola incentivava. “Deus
proverá” é o lema da congregação que a mantém. Depois, na
rede estadual, as conhecidas precariedades, oportunizaram percepção
de que a criatividade, assim como a flexibilidade são também
instrumentos de avaliação. Vi todos os lados do processo: vi a
escola no papel de aluna, de mãe, de professora e de direção.
Na Escola Estadual
Canoas, intensifiquei sobremaneira o amor pelo trabalho. Ali
experimentei a sensação de estar em casa, de ser responsável em
muitos outros aspectos. Acompanhei tão de perto algumas histórias
que estas se tornaram minhas também. Estarei para sempre naqueles
registros, cada vez que alguém se reportar aos fatos do passado. É
interessante pensar que a cidade onde eu nasci e para a qual retornei
e me desenvolvi profissionalmente está no nome da escola que foi o
maior dos desafios profissionais que encarei. Hoje, subindo e
descendo as escadas da Escola Municipal Rio Grande do Sul, vendo o
movimento intenso do pátio, as tantas formas de partilha de
conhecimentos que lançamos, tal como a bola que voa em direção às
goleiras ou cestas... tudo lembra que podemos, todos os dias, ter
aula de caminho. São estas as
aulas mais produtivas. Permitir-se aprender, em cada novo espaço,
com as pessoas que vamos conhecendo, é o mistério maravilhoso da
vida. O lugar onde eu vivo é recheado de escolas.
As que eu amo, as que eu respeito e as que nunca conhecerei. Eu
agradeço a vida por ter me permitido, sempre, ver o valor destas
escolas. E agradeço a pequena Rânia e a todos os alunos que
cruzaram- e ainda cruzarão - a minha vida, já que posso dizer sem
nenhum titubeio: eu vivo e trabalho em um lugar cujo nome poderia ser
Coração.
( Professora Edileine Carvalho Bisinella)
( Professora Edileine Carvalho Bisinella)
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