Faz diferença?
Bonita a propaganda veiculada pelo MEC. Tantos idiomas aludindo à importância do professor. E o convite sereno que conduz os alunos de forma ordenada e atenta. Cena dos sonhos para os educadores!
Tomara encontrar eco. Em tempos modernos, a singeleza daquele convite implica também reavaliar certas posturas que têm alicerçado o comportamento coletivo.
Como professora e sinceramente apaixonada por meu ofício, não posso deixar de estar atenta ao que acontece ao meu redor, com meus alunos, com a sociedade, comigo mesma, por isso algumas perguntas emergem de minha consciência aprendiz.
Faz diferença você conhecer a escola de seu filho, não o prédio, mas aqueles que SÃO, de fato, a escola: professores, funcionários, direção? É fácil estar por dentro do “mundo das celebridades”,conhecer o passado e o presente dos ‘brothers”, tratá-los pelo nome com intimidade...E quanto àqueles que lidam com a história da sua família?
Faz diferença você explicar em casa que no Brasil bigamia é crime, que além de punições legais há todo um problema emocional em que estarão envolvidos os participantes desta situação? Ah, na novela pode. Atores viris, atrizes belas e jovens “com tudo no lugar”. Filhos dividem o pai sem nenhum estresse e elas, é claro, com um bom cartão de crédito resolvem suas mazelas. Na novela... na novela pode.
E ainda, faz diferença falar de moral, de valores, de ética?
Faz alguma diferença mencionar o quanto é improvável ser descoberto como craque de futebol no campinho do bairro ou menina fantástica no shopping...? E que todas estas situações mostradas nos programas de auditório são previamente escolhidas, elaboradas, editadas – até mesmo inventadas? Que tudo envolve interesses comerciais, vendas de produtos? E que aquele vídeo postado no youtube serve como invasão de privacidade?
Faz diferença você esclarecer que não são todos que podem se beneficiar de cotas nas universidades? Ou nos concursos públicos? Bem, chegará um momento em que eles terão que entender determinadas classificações. Ou não? Talvez não faça diferença, não é?
Faz diferença você olhar o caderno deles? Perguntar do que se trata o conteúdo que você não está entendendo? Ajudá-lo na pesquisa, mesmo se já passou das séries iniciais? Está certo, tem o computador e o Google responde tudo. E pra quem não tem internet nada mais conta, então, deixa pra lá! Dá para ser assim?
Faz diferença você explicar ao seu filho estudante que se a escola adota uniforme como regra e você o matriculou nela assinou esta regra? E se você, mesmo não concordando, mostrasse que há muitas regras às quais seremos submetidos ao longo da vida? Ou quem sabe podemos criar um novo mundo sem governo?
E faz diferença falar de sonhos, objetivos , construção...? Ah, com certeza!
Faz diferença? Penso que sim. O que não posso, como professora, como ser humano, é cruzar os braços aceitando que a educação seja postergada a um mero espaço de convívio para discutir as estratégias do reality ou do campeonato brasileiro. Por isso, faz diferença para mim cada novo ano de escola, cada novo grupo. E fico imensamente feliz quando percebo que meus alunos sentem que podem fazer a diferença.
Edileine Carvalho Bisinella
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